PRIMEIROS MIL DIAS

PRIMEIROS MIL DIAS

Os primeiros mil dias e a importância de manter distância de telas

 

Os primeiros mil dias de vida – que abrangem desde a concepção, e os 270 dias de gestação, até o segundo aniversário da criança, ou seja 365 dias do primeiro ano de vida mais 365 dias do segundo ano de vida – são cruciais para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, o chamado período da "janela de oportunidade", na qual é possível adaptar hábitos e atitudes que irão influenciar em todo desenvolvimento posteriormente. Durante esse período, o cérebro se desenvolve rapidamente, e as experiências vividas pela criança têm impacto duradouro em sua saúde, comportamento e capacidade de aprendizado.

A epigenética corrobora que os efeitos do ambiente tais como alimentação, estresse, atividade física, exposição ao fumo e álcool, entre outros hábitos e atitudes, neste período, irão causar um impacto nos indicadores de saúde e doença em curto e longo prazo. Por tanto, nestes primeiros 1.000 dias de vida é possível determinar um futuro de vida saudável para todos os indivíduos, e a transdisciplinaridade baseada na prevenção é o caminho para atingir esse alvo", de acordo com a mestre, doutora e pós-doutora em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), Jenny Abanto.¹

Nesse período, o cérebro apresenta o maior salto evolutivo, os chamados saltos de desenvolvimento, que trazer a processos fundamentais para o correto desenvolvimento e para que a criança consiga atingir o pleno potencial. A gestação é um período importante dentro dos mil primeiros dias de vida, com efeitos que transcendem a infância e afetam a saúde e o potencial do indivíduo ao longo da vida. Investir na saúde da gestante, garantindo cuidados médicos, nutricionais e emocionais adequados, é uma estratégia essencial para promover o desenvolvimento saudável e prevenir problemas futuros.

Após o nascimento do bebê, além da importância do aleitamento materno, de das funções orais que contemplam a sucção, deglutição, respiração e fala, uma das questões mais discutidas atualmente é a exposição precoce às telas, como televisões, smartphones, tablets e computadores, e os potenciais efeitos negativos dessa exposição no desenvolvimento infantil.

 

Por que os mil dias são tão importantes?

 

O desenvolvimento nos primeiros mil dias é marcado por uma série de mudanças biológicas e cognitivas. O cérebro de um bebê cresce a uma velocidade impressionante, estabelecendo milhões de conexões neurais por segundo. Durante essa fase, os estímulos que a criança recebe são fundamentais para moldar a forma como ela percebe e interage com o mundo ao seu redor.

 

  • Desenvolvimento cerebral: Cerca de 80% do desenvolvimento cerebral ocorre até os dois anos de idade.
  • Apego e vínculo: As interações com cuidadores são essenciais para o desenvolvimento emocional.
  • Hábitos de saúde: Nutrição adequada, sono de qualidade e estímulos sensoriais são fundamentais para o crescimento saudável.


Na gestação, a alimentação materna adequada fornece os nutrientes necessários para o crescimento dos órgãos, tecidos e sistema nervoso central do bebê. Cuidados pré-natais, controle de infecções e doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, reduzem os riscos de complicações, como parto prematuro, baixo peso ao nascer e problemas de saúde futuros.

Além disso, durante a gestação, os fatores ambientais, estresse e exposição a toxinas, podem influenciar a expressão gênica do bebê sem alterar a sequência genética. Isso é conhecido como programação epigenética, e pode impactar a saúde metabólica, imunológica e neurológica do indivíduo ao longo da vida. O período gestacional também é o início do vínculo entre mãe e bebê. As interações maternas, mesmo durante a gestação, como tocar a barriga, cantar ou falar com o bebê, contribuem para o estabelecimento de um ambiente emocional seguro. 

O bem-estar emocional da mãe também impacta diretamente a saúde do bebê. O estresse, a ansiedade e a depressão materna estão associados a alterações hormonais que podem influenciar negativamente o desenvolvimento fetal.

 

Principais recomendações sobre o uso de telas

 

A Organização Mundial da Saúde (MS), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Academia Americana de Pediatria (AAP), orientam que crianças pequenas devem ter a exposição às telas limitada, especialmente nos primeiros anos de vida.

 

  • Bebês de 0 a 2 anos: Zero exposição a telas, exceto para videochamadas supervisionadas, que podem ser usadas para manter conexões familiares por tempo limitado.


Embora as telas façam parte do cotidiano moderno, estudos têm mostrado que o uso excessivo pode afetar negativamente o desenvolvimento infantil. A exposição excessiva às telas pode prejudicar o desenvolvimento da linguagem e das habilidades cognitivas. Bebês e crianças pequenas aprendem principalmente através da interação com o mundo físico e com outras pessoas, e a exposição passiva a telas não oferece o mesmo nível de estímulo.

A interação face a face é crucial para o desenvolvimento da linguagem. Quando uma criança está exposta a telas, ela perde a oportunidade de participar de conversas e ouvir a linguagem em contextos naturais, o que pode resultar em atraso na fala.

Dica: Conversar com a criança durante atividades do dia a dia, como trocar fraldas ou preparar refeições, ajuda a enriquecer o vocabulário e a compreensão da linguagem.

O uso excessivo de telas está associado ao aumento de problemas de comportamento, como irritabilidade, impulsividade e dificuldade de concentração. Além disso, a luz azul emitida pelas telas pode interferir na produção de melatonina, hormônio responsável pelo sono, dificultando o adormecer.

Dica: Estabeleça uma rotina sem telas pelo menos uma hora antes de dormir. Incentive atividades relaxantes, como leitura ou brincadeiras calmas.

Crianças pequenas aprendem habilidades sociais observando e imitando seus cuidadores. Quando uma tela está presente, a interação entre adultos e crianças tende a diminuir, o que pode prejudicar o desenvolvimento de empatia, cooperação e habilidades de comunicação.

Exemplo: Brincadeiras de faz de conta, como "tomar chá" ou "cuidar de bonecas", ajudam as crianças a entenderem emoções e a desenvolverem habilidades interpessoais.

 

Alternativas saudáveis para toda família

 

Manter as telas fora do alcance não significa deixar a criança entediada. Existem muitas atividades ricas em estímulos que ajudam no desenvolvimento cognitivo, emocional e motor.

  • Brincadeiras sensoriais

Atividades que envolvem diferentes sentidos ajudam a desenvolver habilidades motoras e cognitivas.

Exemplo: Deixar a criança explorar texturas diferentes com massinhas de modelar, areia ou água é uma ótima maneira de estimular a criatividade e as habilidades táteis.

  • Leitura de histórias

Ler para o bebê ou a criança pequena é uma maneira excelente de estimular a imaginação, enriquecer o vocabulário e fortalecer o vínculo afetivo.

Dica: Escolha livros com ilustrações coloridas e histórias simples. Leia com entonação e incentive a criança a apontar e nomear objetos nas páginas.

  • Atividades ao ar livre

O contato com a natureza estimula o desenvolvimento físico, melhora o humor e fortalece o sistema imunológico.

Exemplo: Passeios em parques, brincadeiras de bola ou simples caminhadas no quintal proporcionam movimento, descobertas e conexão com o meio ambiente.


Os pais e cuidadores têm um papel fundamental na criação de ambientes ricos em estímulos saudáveis. O exemplo dado pelos adultos influencia diretamente os hábitos das crianças, inclusive no uso de telas.
Seja um modelo positivo, limite o uso de telas na frente da criança e priorize interações presenciais. Defina áreas da casa, livres de tela, como a sala de jantar ou o quarto, onde o uso de dispositivos não é permitido. Explique à criança (quando for mais velha) por que o uso de telas é restrito e incentive atividades alternativas.

Os primeiros mil dias de vida oferecem uma janela de oportunidade única para garantir o desenvolvimento saudável da criança que também contribuirá com a vida adulta. Seguir as recomendações de especialistas e investir em atividades que estimulem a interação, a criatividade e o aprendizado são passos fundamentais para proporcionar uma infância equilibrada.

Embora a tecnologia seja uma parte inevitável da vida moderna, o ideal é permitir que a criança explore o mundo real ao seu redor antes de ser introduzida ao mundo digital. Ao priorizar interações humanas, atividades sensoriais e rotinas saudáveis, estamos investindo no futuro das crianças e garantindo que elas cresçam em ambientes propícios ao seu pleno desenvolvimento.

 

1 - https://www.fsp.usp.br/mina/wp-content/uploads/2018/10/Materia_Capa.pdf

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